O Semiárido brasileiro é um território que alcança nove estados do Nordeste e um do Sudeste, uma área de mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, praticamente o mesmo tamanho de Alemanha e França juntas. São 1.262 municípios, onde moram mais de 22 milhões de pessoas, o que caracteriza o nosso Semiárido como o mais populoso do mundo (IBGE, 2018).
Tendo em vista o tamanho da região e as diversas características particulares que formam o Semiárido, desde o início o Irpaa procurou atuar em parceria com outras instituições, primeiro para divulgar a Convivência com o Semiárido e mostrar para mais pessoas que era preciso mudar a forma de ver a nossa região. Depois o Irpaa fez experimentações tecnológicas e ajudou a construir políticas públicas que proporcionaram conquistas fundamentais para as populações do Semiárido. Todo esse trabalho aconteceu de forma coletiva, diretamente entre entidades ou via atuação em rede.
Logo nos primeiros anos o Irpaa percebeu que era preciso valorizar a produção local. As/Os agricultoras/es eram exploradas/os, vendiam seus produtos in natura, com valores muito abaixo daqueles praticados no mercado. Para mudar esse cenário e com base na observação das práticas de famílias de Canudos, Uauá e Curaçá veio a ideia fortalecer o beneficiamento do umbu, algo que as algumas mulheres já faziam nas cozinhas de suas residências. Assim teve início o Pró-CUC, que depois gerou a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), uma aposta ousada que envolve beneficiamento, comercialização e preservação da caatinga. Denise Cardoso, atual presidenta da cooperativa, afirma que “a Coopercuc é o resultado da Convivência com o Semiárido”.
A organização do povo do Semiárido fez nascer associações, cooperativas e redes de comercialização. Um desses exemplos é a Central da Caatinga, uma rede que reúne vários grupos produtivos e facilita o escoamento da produção. Segundo Adilson Cardoso, presidente da rede, a Central da Caatinga tem a função de contribuir na produção, desenvolvimento de produtos e comercialização, tendo como ponto de partida a Convivência com o Semiárido.
Para que agricultoras/es apostassem na Convivência com o Semiárido foi preciso um processo de formação continuado, desconstruindo falsas ideias sobre a região e aprimorando o olhar para as potencialidades. Contudo, as crianças continuavam a receber na escola uma formação descontextualizada, um conhecimento que pouco se aplicava no dia a dia e ainda refletia a ideia de um Semiárido pobre e ruim para viver.
O cenário estimulou a criação da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab) que atua na construção de políticas públicas e saberes contextualizados à nossa realidade e reúne entidades não-governamentais, órgãos públicos e pessoas comprometidas com a educação de qualidade, respeitando as características do Semiárido.
O professor Edmerson dos Santos Reis, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e secretário executivo da Resab, entende o Irpaa como parte essencial do processo de formação da Rede, que propõe “a educação contextualizada para a Convivência com o Semiárido como o foco de todas as ações e como estratégia fundamental na formação das pessoas e voltada para se pensar um outro Semiárido, cuja a base é a Convivência”, destaca.
Outro campo importante para mostrar a verdadeira cara do Semiárido é a comunicação, em especial aquela popular e comunitária, algo que o Irpaa tem buscado fortalecer através de parcerias com instituições de ensino da região, Organizações Não-Governamentais e rádios comunitárias.
Na luta por uma comunicação mais plural e democrática, que respeite as leis do país e principalmente as pessoas, surgiram parceiras como a Rádio Curaçá FM, emissora que já colaborou com a entidade em várias atividades e há muitos anos exibe o Viva Bem no Sertão, programa do Irpaa. Rosendo dos Santos, da Curaçá FM, considera que a parceria “fortalece a política de desenvolvimento comunitário”.
O desenvolvimento comunitário, a partir da Convivência com o Semiárido, foi sendo semeado pela região, tendo a Escola de Formação para a Convivência com o Semiárido como uma das ferramentas para lançamento das sementes. De acordo Adriana Sá, colaboradora da Associação Regional de Convivência Apropriada ao Semiárido (Arcas), após participar de uma escola de formação realizada na década de noventa, agricultores voltaram “motivados a fazer o trabalho de Convivência com o Semiárido”, criando em Cícero Dantas uma das entidades da Bahia que atua na defesa do Bem Viver no Semiárido.
Hoje o Irpaa, assim como a Arcas, integra a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), onde tem buscado, principalmente contribuir para o acesso à água e a formação para a Convivência com o Semiárido, tendo ajudado a alcançar diversas conquistas para as famílias da região. As vitórias alcançadas merecem, na opinião de Naidison Baptista, coordenado da ASA-BA, uma celebração, ainda que não possa ser presencialmente e com aglomeração de pessoas, haja vista a pandemia que alcançou nosso país.
Naidson explica que “o Irpaa tem um papel importante, porque está sempre junto da ASA-BA”, seja nos momentos de proposição, reivindicação, comemoração ou mesmo cobrança aos governos.
Na visão de Tiago Pereira, Coordenador Institucional do Irpaa, a Convivência com o Semiárido já é um assunto comum na sociedade e isso é fruto de uma ação articulada e bem-sucedida entre Ongs e governos. “Uma instituição sozinha não conseguiria avançar tanto no processo de consolidação e defesa da Convivência com o Semiárido, se não fosse a incidência e a participação ativa nos espaços de redes, fóruns e articulações”, conclui o colaborador do Irpaa.